Embaixador André Driessen - Brasil
O Embaixador
André Driessen
Veja o currículo do Embaixador em André Driessen (em neerlandês)
Como é ser embaixador no Brasil?
Ser embaixador neste grande e versátil país é para mim um grande privilégio. A minha ligação com o Brasil já vem dos meus tempos de criança e vivia em São Paulo, onde o meu pai trabalhava, na Philips. Parece uma história muito interessante, mas honestamente, as impressões que tenho dessa altura estão bastantes desvanecidas. O Brasil mudou incrivelmente nestes mais de 50 anos, se tornando um ator importante no cenário mundial.
Temos, como Países Baixos, fortes laços baseados nas relações históricas do século XVII, na imigração do início do século passado e na cooperação intensiva nos últimos anos. É muito gratificante ter começado a trabalhar, em 2021, com o objetivo de estimular uma maior aproximação entre os Países Baixos e o Brasil. Quando se têm tantos instrumentos proveitosos à disposição esta é uma tarefa gratificante, e foi muito o que nos últimos anos alcançámos para aproximar ainda mais os dois países.
Como vê na prática a cooperação entre os Países Baixos e o Brasil? Pode dar algum exemplo específico? Qual é para si o projeto mais interessante?
Ambos os países colaboram de muitas maneiras, seja entre empresas, universidades, instituições culturais ou uma combinação destas. Uma colaboração muito interessante é a do Porto de Roterdã com o porto nordestino do Pecém, no Ceará. Essa foi realmente uma escolha estratégica, que se traduz numa grande promessa para a nossa segurança energética no futuro.
O Brasil está se tornando um dos maiores produtores de hidrogênio verde devido à abundante disponibilidade de fontes de energia renováveis, como a solar e a eólica. Com um centro de produção de hidrogênio verde em Pecém, Roterdã garante que grande parte desse hidrogênio do Brasil seja distribuído para os Países Baixos e outros lugares na Europa.
Além de Roterdã, há agora também outras empresas neerlandesas envolvidas. Pecém poderá se tornar um polo de atração para atividades económicas, sem dúvida de importância, para o relativamente menos desenvolvido nordeste do Brasil. Mas há muitos outros mais e menos significativos modelos de colaboração como, por exemplo, o mural que um artista indígena brasileiro vai criar na Mauritshuis, em Haia - uma admirável expressão contemporânea do nosso passado comum!
O que podem os Países Baixos aprender com os brasileiros?
Em segundo lugar vem o seu talento para improvisar; nesse aspeto, os brasileiros são realmente o oposto dos neerlandeses. Nós estamos muito focados na ordenação e nos cronogramas rígidos - um pouco mais de flexibilidade tornaria tudo muito mais tranquilo. Por outro lado, os brasileiros poderiam se beneficiar da nossa predileção pela organização e planejamento, qualidades pelas quais também somos valorizados. Seria excelente alcançar um mix ideal!
O que é que desperta mais a atenção dos brasileiros quando fala com eles sobre os Países Baixos?
Os brasileiros conhecem principalmente aquilo que é mais típico, como Amsterdã, tulipas, futebol neerlandês e, claro, a nossa experiência na área de agricultura e água. Portanto, é importante contar mais sobre os Países Baixos, porque o nosso país tem muito mais para oferecer. É fascinante para as pessoas ouvirem que uma parte dos Países Baixos se encontra abaixo do nível do mar, e o que isso significou para a nossa história e o nosso desenvolvimento. Que durante o período do nosso passado colonial comum éramos uma república com ideias bastante modernas para a época.
Que grande parte das flores cultivadas e comercializadas no Brasil vem de Holambra, uma comunidade fundada por imigrantes neerlandeses. Os brasileiros também ficam deslumbrados com a utilização intensiva de bicicletas nos Países Baixos. E admiram a nossa posição de destaque em muitas áreas... por exemplo, a nossa economia, a exportação, os altos índices de investimento e as nossas universidades de topo.
Como viu o desenvolvimento das relações entre BRA e NL durante o seu mandato e o que espera alcançar no futuro?
Nos últimos anos, as relações entre os dois países tornaram-se muito mais intensas. Isso também tem a ver com o fato de o Brasil ter voltado a abrir uma janela para o mundo e buscado maior aproximação com outros países, em muitos temas. Trabalhamos juntos em muitas áreas e muito mais é ainda possível.
O Brasil e os Países Baixos desenvolveram o chamado Roteiro para as Relações Bilaterais, um roteiro para a nossa cooperação nos próximos anos nas áreas da política, economia, cultura, educação, desenvolvimento sustentável e outras. Estamos trabalhando para um espetacular ano de amizade em 2030, quando comemoraremos os 400 anos da Fundação Países Baixos-Brasil.
O Brasil é o país anfitrião da COP30. Os Países Baixos e o Brasil são parceiros na luta contra as alterações climáticas?
Claro que somos parceiros. E onde ainda não formos, temos que nos tornar parceiros! Por vezes ainda subestimamos a importância do Brasil para a resolução dos principais desafios globais que temos nas áreas de nutrição e segurança alimentar, transição energética e matérias-primas. De uma maneira geral, para combater os efeitos das alterações climáticas, protegendo e preservando a grande biodiversidade do país.
“Resolvendo o Desafio Global Juntos” é nosso slogan de marca neerlandês, do qual o Brasil é um ótimo exemplo. Sozinhos não o conseguiremos fazer. A partilha de conhecimento, habilidades, experiência e a colaboração em projetos são a base para um futuro melhor, mais seguro e mais sustentável, para nós e para as gerações futuras.