O Embaixador

André Driessen

Embaixador em Brasília
André Driessen é o Embaixador do Reino dos Países Baixos desde 2021.

Veja o currículo do Embaixador em André Driessen (em neerlandês)
Quando criança, André Driessen viveu alguns anos em São Paulo. Com sua nomeação como embaixador no Brasil, o círculo está agora encerrando. O Brasil é um país continental. Além de uma embaixada, a Holanda tem ainda dois consulados e escritórios comerciais neste imenso país. Além de grandes interesses econômicos, a Holanda também coopera com o Brasil em outras áreas, como o combate ao crime organizado e ao desmatamento.

Como o senhor descreveria o Brasil?

“Conhecemos o Brasil, por seus estereótipos, como o carnaval e as grandes cachoeiras. Mas o país tem muito mais facetas e semblantes. O Brasil é um país continental. O brasileiro típico também não existe. As pessoas têm origens muito diferentes. É isso que o torna interessante. Temos, portanto, que olhar mais além desses estereótipos e fazer jus ao que este país tem para oferecer.”

“Quando criança, vivi alguns anos em São Paulo, dos quatro aos oito anos. Por isso, sempre me interessei muito por este país. O fato de eu agora trabalhar aqui como embaixador é como uma espécie de um círculo encerrando em minha história no Brasil. Essa trajetória não foi feita de forma consciente, porque isso não está inteiramente em minhas mãos perante o Ministério das Relações Exteriores. Mas tenho uma certa predileção pela América Latina. Por isso, quando surgiu a oportunidade de trabalhar no Brasil, fiquei encantado.”

Quais são os principais temas em que a Holanda e o Brasil estão colaborando?

“Como base estão, em grande parte, o relacionamento amigável de séculos e a cooperação econômica. A Holanda tem aqui grandes interesses econômicos. Nos últimos anos também trabalhamos algumas vezes juntos no campo político. A diplomacia brasileira tem boa reputação. E a cooperação é sempre boa.”

“Também trabalhamos juntos nos temas de clima e sustentabilidade, entre outros, no combate ao desmatamento. Um outro tema que está se tornando cada vez mais importante é o combate ao tráfico de drogas e ao crime organizado transnacional. Nessa área, a cooperação com a polícia e as alfândegas brasileiras está se tornando cada vez mais importante para a Holanda.''

O senhor pode citar alguns exemplos?

“Quando se pensa em cooperação econômica, deve-se pensar principalmente em apoiar as empresas. Um desenvolvimento recente é a presença central do Brasil no desenvolvimento do hidrogênio. Este é um país onde se pode produzir hidrogênio bom e razoavelmente barato. Existem todos os tipos de planos para trazer para a Europa. Roterdã desempenha um papel fundamental neste campo.”

“Também fazemos muito na educação. Vivem cerca de 25.000 brasileiros na Holanda, alguns dos quais estudam e outros trabalham em TI, por exemplo. No plano político, há principalmente cooperação em direitos humanos em fóruns multilaterais. Em nível nacional, ainda existem desafios nessa área no Brasil, razão pela qual apoiamos diversos projetos através do Fundo de Direitos Humanos. Trabalhar em conjunto é importante em um mundo onde as contradições estão aumentando.''

Além da Embaixada em Brasília, existem também consulados (honorários) e escritórios comerciais. Como estes se relacionam entre si?

“O Brasil é um país grande que exige uma rede ampla de contatos. Temos aqui dois consulados, que são nossos postos profissionais, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Todo o atendimento consular ocorre, portanto, a partir de São Paulo e não através da embaixada em Brasília. A maioria dos holandeses vive nesses dois estados. Além disso, temos dois escritórios comerciais, os Netherlands Business Support Offices (NBSO). Na realidade, ter pequenos escritórios numa zona economicamente interessante e onde as empresas precisam de apoio extra é uma solução muito pragmática.''

“É importante mencionar também que colegas de outros ministérios também participam na rede. Por exemplo, temos adidos para assuntos agrícolas, de inovação, policial e alfandegário. Embora tenham seu próprio empregador, eles trabalham juntos em nossa rede. Temos ainda 11 cônsules honorários que atendem as pessoas, principalmente nas áreas turísticas. No total, temos uma bandeira neerlandesa no mapa em dezesseis lugares.”

Anteriormente, o senhor foi Diretor de Negócios Internacionais. O Brasil é um mercado atraente para empresas holandesas?

“Por sua dimensão e potencial, é certamente um mercado atraente, mas não é um mercado fácil. O Brasil tem uma economia bastante fechada, com altas tarifas de importação e muita burocracia. As empresas holandesas têm dificuldade em lidar com isso. Além disso, temas como corrupção e integridade também desempenham um papel importante. Dizem que 'o Brasil não é para iniciantes', mas também ouvi isso na China e na Nigéria. Não acredito que fazer negócios no Brasil seja mais complicado do que na China ou na Nigéria.”

“O mais importante é ter perseverança e tempo para se preparar bem. O que vejo, infelizmente, é que nosso perfil aqui é baseado em produtos agrícolas tradicionais. Enquanto em muitos outros países fizemos uma mudança para as áreas de conhecimento, inovação e serviços. Na minha opinião, podemos investir mais na modernização do perfil neerlandês aqui no Brasil. Muitíssimas empresas e instituições de conhecimento podem se beneficiar disso.''

O Brasil foi muito atingido pela covid-19. Qual a dimensão das consequências da pandemia?

“Neste momento as coisas estão indo melhor aqui do que na Holanda. O Brasil está saindo gradualmente do lockdown e outras restrições estão sendo levantadas. O vírus atingiu um pico aqui no outono de 2021. Foi uma situação muito crítica. O sistema de saúde implodiu e houve uma enorme discussão política, com o presidente minimizando a pandemia. Ao mesmo tempo que governadores, inclusive o de São Paulo, a levaram a sério. Uma situação idêntica à dos Estados Unidos.”

"Infelizmente, o país tem muitas vítimas para lamentar. Os efeitos do lockdown são particularmente visíveis na educação e nas pequenas empresas. Notaremos o aumento da pobreza no futuro próximo. Recentemente estive no Rio de Janeiro e em São Paulo. Lá vi muita gente dormindo na rua. Temos as consequências diretas da pandemia, mas também uma sequela social que está gradualmente se tornando visível.''

O que o senhor quer alcançar nos próximos anos como embaixador?

“Estou aqui, naturalmente, com um perfil econômico. Essa vai ser uma área em que quero investir. Gostaria de poder contribuir para a modernização da imagem da Holanda no Brasil. O que fazemos aqui deve estar mais alinhado com os desenvolvimentos que também estamos vendo na economia holandesa: mais tecnologia, mais inovação, mais foco em sustentabilidade e transição energética.''

Holandeses e brasileiros adoram futebol. Este esporte pode nos conectar?

“O futebol aqui é quase religião. Certamente pode nos conectar. Os brasileiros sabem muito bem quais os jogadores brasileiros que jogam onde. Quando falo com os taxistas, eles sempre mencionam nossos antigos jogadores de futebol, dos anos 80 e 90. As pessoas sabem que a Holanda é um país importante para o futebol, mas é claro que acham que o Brasil é mais importante.''

“Quando tive que apresentar minhas credenciais ao presidente, fiz todo o dever de casa em relação ao futebol. Descobri que as seleções brasileira e holandesa se enfrentaram treze vezes e a balança está completamente equilibrada: quatro vitórias, quatro derrotas e cinco empates!''